domingo, 1 de novembro de 2009

O BOM FILHO A CASA TORNA

Fernando Torres visita Estácio durante a Semana da Comunicação

Por Jaqueline Ferreira

Na segunda-feira, 29 de outubro, o repórter Fernando Torres, retornou ao campus da Universidade Estácio de Sá, em Nova Friburgo, onde estudou e atuou como professor. Dando início às palestras da semana de comunicação, Fernando contou um pouco da sua trajetória e experiência no Jornal Extra.

― Eu tenho 26 anos, sou da primeira turma de jornalismo do campus e tinha tudo pra dar errado. Morava em Santa Rita da Floresta, distrito de Cantagalo, há quatro quilômetros do asfalto mais próximo e mesmo assim ousei desafiar a minha realidade e comecei a alimentar o sonho de ser repórter ― conta o ex-aluno.


Os alunos de comunicação que não tiveram a oportunidade de ouvir essa história em sala de aula se surpreenderam com o exemplo de persistência e receberam dois conselhos do palestrante:


― O aluno não pode achar que a vida profissional começa depois da formatura e não deve fazer menos do que pode. Uma resenha, um texto ou uma matéria, são os produtos jornalísticos que vocês têm nas mãos. Eles devem ser feitos da melhor maneira, pois o professor se lembrará daquele aluno empenhado que entregou um bom trabalho. Quando surge uma vaga no mercado e consultam o professor, pode ter certeza: ele indicará o seu aluno.

Exemplificando a frase “não adianta ser gênio e ninguém saber disso”, Fernando Torres, praticou o que aprendia na Universidade em diversos veículos da região serrana. Entre eles, a Rádio Estação e a Mídia Impressa da Estácio, TV Serra Mar (atual InterTV), Jornal O Momento de Macuco, assessoria de comunicação do Instituto Brasileiro de Pesquisa Alternativa (IBPA), agência de publicidade Groove, Rádio Sucesso FM, TV Zoom e Friweb.

― Saindo daqui, elementos como a audiência, vão interferir no trabalho de vocês. A universidade permite que sejam totalmente criativos. É hora de produzir. Eu cheguei até a apresentar formaturas porque ajudavam a me expressar melhor, era um exercício para perder qualquer tipo de bloqueio, timidez, medo de microfone― acrescenta o atual repórter do Extra.

Repórter 3G
A oportunidade de trabalhar no Jornal Extra surgiu em 2008, através de um convite. Disposto a contar as grandes histórias da Baixada, o desafio foi aceito e hoje, o “Repórter 3G” sai às ruas com um laptop e uma câmera digital. Ele apura os fatos, grava vídeos, fotografa e edita tudo isso, muitas vezes no carro, para alimentar o site do jornal e fechar matérias para o dia seguinte.

― Informação só com texto é coisa do passado. As pessoas querem imagens e nós temos que fornecer aquilo que é pedido. No dia-a-dia da rua aprendemos a criar minimamente uma relação de intimidade com a fonte para obter a informação certa e de preferência que ninguém tenha― explicou.

João Buracão
Numa dessas reportagens de rua, no dia 13 de fevereiro, aconteceu o encontro com a grande história esperada por Fernando: o João Buracão, nome e sobrenome para o descaso público. O boneco, construído pelo borracheiro Irandi da Rocha como forma de protesto, foi visto pescando em uma cratera na Rua Piraí em Marechal Hermes no Rio de Janeiro.


― Não acreditei que estava vendo aquilo. Entrevistei o borracheiro e fiquei com o contato dele. O buraco logo foi tapado e quando voltamos ao local, presenciamos uma comemoração bem humorada: as pessoas estavam fritando o peixe do João. Chegamos a receber 15 mil ligações na Central de Atendimento ao Leitor, pois todos queriam denunciar as crateras de suas ruas. O boneco mostrou o tamanho do problema e se antes as prefeituras investiam X em manutenção, passaram a investir 5X com medo de receber a visita.

Ironizando e denunciando, João Buracão ganhou as páginas do Jornal Extra, um blog, uma parceria com a Rádio Globo, participações no Fantástico, entrevista no Mais Você e centenas de clones pelo Brasil. O personagem abriu espaço para um jornalismo de comunidade totalmente interativo, as pessoas ligam para o jornal, mandam fotos, vídeos e solicitam a prestação de serviço da mídia, através do boneco.

Segurança no trabalho
No fim da palestra, a professora Maria Goretti levantou o problema das coberturas jornalísticas em áreas dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. A morte do Jornalista TIM Lopez e o seqüestro da equipe do Jornal O Dia foram lembrados como exemplos do limite que o profissional de comunicação deve respeitar.

― Recebemos coletes à prova de balas e carro blindado quando a situação exige. Geralmente usamos o equipamento ao entrar em áreas de milícia ou locais com cenários políticos conturbados, mas dois outros elementos me dão maior segurança: o motorista e o crachá. Só os carros e coletes do BOPE seguram tiro de fuzil, logo, o meu colete é o meu crachá. Desde a morte do TIM Lopez os caras sabem que mexer com jornalista é furada, sabem que serão caçados e presos― revela Fernando.

No dilema entre uma boa matéria e a segurança do repórter, o bom senso também deve prevalecer.


― O jornalista sempre quer dar 10 passos além do que deve. Além disso, você é cobrado para trazer coisas novas da rua. É importante ter o bom senso e a humildade de pelo menos ligar para a redação e perguntar se deve ir. Na adrenalina você não raciocina com frieza― conclui.

Confira uma entrevista exclusiva com Fernando Torres.

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