domingo, 29 de novembro de 2009

OMS alerta que depressão será pior em 20 anos

Psicóloga ensina teresopolitanos a combaterem a doença



A depressão já atinge a 1,5 milhão de pessoas no mundo

Matéria para AV2 - Mista
Por Diógenes de Oliveira
Em 20 anos, a depressão será ainda pior. Esse é o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) feito em setembro deste ano. Durante um congresso mundial realizado recentemente na Grécia, os médicos afirmaram que a doença vai gerar uma epidemia silenciosa. A OMS recomendou que os governos deem prioridade ao combate às doenças mentais.

Em Teresópolis, a doença é comum. Há quatros anos, a representante comercial, Nancy Pereira Mota, 53 anos, enfrentou o problema. Para amenizar os sintomas, que a obrigaram a se afastar do trabalho, ela teve de optar por um tratamento a base de remédios e terapias que durou três anos.

Nancy Mota destacou que sentimentos de morte a cercavam. Um mal-estar muito forte tirava a coragem necessária para seguir uma vida normal. A representante comercial afirmou ter sido vítima de maus tratos dentro de casa. Para ela, o excesso de responsabilidades, as dificuldades conjugais e financeiras contribuíram para o surgimento da doença.

“Nada tinha valor para mim, minha vida perdeu por completo o sentido. Hoje me sinto bem com os medicamentos que tomo”, disse. Mesmo com algumas recaídas, Nancy voltou ao trabalho e tem uma vida normal.

A auxiliar-administrativo, Kátia Martins, 43 anos, sentiu também o drama na pele. Tudo começou ao descobrir que a única filha tinha uma doença rara. O sofrimento da menina e a falta de perspectiva de melhora tornaram a depressão inevitável. Anos depois, a menina faleceu.

De acordo com Kátia Martins, se estivesse viva, a filha estaria com 17 anos de idade. O tratamento da doença levou dez meses e também contou com terapias e antidepressivos. “Hoje, me sinto muito bem. Mas, de vez em quando, sinto alguns medos inexplicáveis. Mas não é sempre”, contou.

Diversos fatores podem gerar a depressão

De acordo com um estudo publicado no British Journal of Psychiatry deste mês, as pessoas que ingerem alimentos industrializados em quantidade excessiva têm 58% mais chances de sobre de depressão. Segundo a pesquisa, o diagnóstico da doença é menor entre os indivíduos que mantêm uma dieta rica em peixes, vegetais e frutas.

A estimativa é que entre 15 e 20% da população já sofram ou sofrerão de depressão. O problema é que muitas dessas pessoas ainda não procuraram ajuda. Há também casos em que o diagnóstico é feito de maneira errônea. Em quadros mais graves, a doença pode levar à morte seja pelo adoecimento ou suicídio.


As brigas constantes entre casais podem gerar a depressão

Existem outros acontecimentos capazes de gerar o distúrbio. Crises no casamento e separações, entrada na menopausa e mudanças drásticas no estilo de vida, como a aposentadoria. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dos 340 milhões de pessoas que sofriam de depressão em 2005 no mundo 75% não tinham passado por nenhum tipo de tratamento contra a doença.

Segundo a psicóloga, Drª. Vanusa Ramos, a tendência é a mulher ser mais sensível à depressão por valorizar detalhes que os homens muitas vezes não percebem:

“Devido a esta sensibilidade ela absorve mais conflitos e muitas vezes não se expressa de maneira saudável quanto a estes conflitos, acumulando ofensas, dúvidas, baixa-estima, e isto em muitos casos depois de um tempo pode desencadear uma depressão”, destacou.

De acordo com Vanusa Ramos, a depressão pode estar presente entre as crianças. A doença atinge as pessoas de todos os sexos e classes sociais. Para a psicóloga, o distúrbio é uma manifestação de questões acumuladas internamente.

“Principalmente quando não se expressa raiva de maneira saudável em situações conflituosas, ou se guarda muita mágoa durante muito tempo. Normalmente as pessoas menos assertivas tem uma maior tendência a ficarem deprimidas, mas isto não é uma regra”, esclareceu.

A depressão não traz apenas sintomas emocionais
 De acordo com a psicóloga, Vanusa Ramos, uma característica da depressão é a abulia - falta de interesse do indivíduo em realizar qualquer atividade. Além disso, nas depressões graves, a pessoa se recusa a trabalhar, tomar banho, sair de casa e até a comer.


“As manhãs são rejeitadas devido a não suportar claridade e resistir ao início de um novo dia. O indivíduo tem total falta de esperança e nenhuma expectativa para o futuro. Podem existir ainda os casos leves, onde a pessoa tem um forte desânimo, apatia e muita angústia”, disse.

Mas outro ponto que também tem sido observado pelos especialistas é a doença no aspecto físico. A depressão vem acompanhada de dores musculares e de cabeça, alterações digestivas, fadiga, aumento ou falta de apetite. Não se trata apenas de um transtorno mental, pois envolve mente e corpo. Ainda não se sabe o que vem primeiro: os sintomas físicos ou emocionais.

Uma pesquisa realizada em 2007 em cinco países, entre eles o Brasil, com médicos e vítimas de depressão, revelou que 69% dos pacientes diagnosticados têm sintomas físicos inexplicáveis como principal queixa. Muitos que sofrem de depressão não sabem que essas dores são sinal da doença. Apenas 33% dos médicos entrevistados acreditam que dores físicas são um sinal de depressão.

Outros 77% concordam que a falha em tratar as dores físicas associadas com a depressão aumenta o risco de recaídas. Entretanto, 88% acreditam que o tratamento dos sintomas emocionais levará a resolução das dores físicas.
O fato de a depressão estar acompanhada por outros sintomas tem sido um desafio para a ciência. É comum encontrar traços da doença em outras patologias. Transtornos de ansiedade, dermatites e psoríase são alguns exemplos.

Como tratar a depressão

De acordo com a Drª. Vanusa Ramos, a pessoa deprimida sabe que está enferma. Mas, existem casos em que é necessário algum esclarecimento por parte de um profissional ou de familiar próximo para que a pessoa se conscientize.

A maneira de encarar a doença por parte de muitos familiares pode agravar a situação das pessoas que sofrem de depressão. Segundo a Drª. Vanusa Ramos, em todos os casos é necessário o auxílio de um profissional para o tratamento da doença.

“No caso da depressão leve, levar algo que a pessoa goste ou convidá-la para um programa que lhe interesse pode ajudar, mas é necessária uma ajuda psicológica e psiquiátrica. No caso da depressão grave, o procedimento é levar ao psicólogo ou psiquiatra mesmo contra a vontade da pessoa”, disse.

A psicóloga, Drª. Vanusa Ramos, destacou que o tempo de recuperação vai depender do comportamento de cada indivíduo. Segundo ela, o tratamento é feito com terapias e medicamentos. Para a psicóloga, é muito difícil a pessoa se recuperar se não ingerir antidepressivos. Mas se a depressão for tratada apenas com remédios, a probabilidade dela voltar é grande.

“Por isto, é necessário não somente o tratamento psiquiátrico, com medicação, mas também o psicológico. E o tratamento psicológico, às vezes, precisa se estender mesmo depois da ausência dos sintomas mais graves”, disse.

De acordo com a Drª. Vanusa Ramos, estar disposto a ouvir como amigo é mais eficaz do que tentar animar as pessoas deprimidas. “Palavras como: Você precisa se animar. Reaja! não vão ajudar. O melhor é chegar próximo desta pessoa sem querer julgá-la ou dar comandos e se colocar como amigo dizendo estar disposto a ajudar e ouvir quando for necessário”, observou.

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