terça-feira, 24 de novembro de 2009

“UM MARCO, UM CASE HISTÓRICO”

Personagem abre espaço para jornalismo de comunidade interativo

Por Jaqueline Ferreira

Taça de champanhe

Ele é popular. Caiu nas graças do povo e ficou famoso. Ganhou um blog, as páginas do Jornal Extra e fez parceria com a Rádio Globo. Também apareceu no Fantástico, tomou café com Ana Maria Braga e Eduardo Paes. Mas, como toda celebridade, conheceu o lado ruim da vida pública: foi sequestrado e agredido. No entanto, “brasileiro não desiste nunca” e João, como representante do Rio de Janeiro, não se calou.

João não é uma autoridade política. Nem humano ele é. João Buracão é um boneco feito com espuma de colchão e jornais, criação do borracheiro Irandir Rocha. Irandir, que também é artesão, resolveu denunciar com muita criatividade e bom humor, o buraco em frente a sua oficina, na Rua Piraí, em Marechal Hermes. Colocou o boneco para pescar na cratera.

FOTO: DIVULGAÇÃO

A situação inusitada chamou a atenção do repórter Fernando Torres, do Jornal Extra, que por coincidência passava pelo local. Desde fevereiro, o boneco vem ironizando e denunciando o descaso público. O personagem abriu espaço para um jornalismo de comunidade totalmente interativo. As pessoas ligam para o jornal, mandam fotos, vídeos e solicitam a prestação de serviço da mídia, através do boneco. Foram tapados 160 mil buracos e Fernando foi indicado ao Prêmio Esso de reportagem.


― Chegamos a receber 15 mil ligações na Central de Atendimento ao Leitor, pois todos queriam denunciar as crateras de suas ruas. O boneco mostrou o tamanho do problema e se antes as prefeituras investiam X em manutenção, passaram a investir 5X com medo de receber a visita. João Buracão é um marco, um "case" histórico. É um prazer participar, decisivamente, desse trabalho jornalístico. Vou lembrar das histórias do boneco pelo resto da vida. ― ressalta o jornalista.


A caminhada de Fernando
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
O descobridor dessa figura carismática, Fernando Torres, aceitou o convite de trabalhar no Extra, em 2008. Porém, até se tornar o repórter 3G do jornal carioca, o menino do interior teve que superar muitas dificuldades e provar a cada dia que seu sonho era possível.

Na segunda-feira, 29 de outubro, ele retornou ao campus da Universidade Estácio de Sá, em Nova Friburgo, onde estudou e atuou como professor para dar início às palestras da semana de comunicação e contar um pouco da sua trajetória e experiência profissional.

― Eu tenho 26 anos, sou da primeira turma de jornalismo do campus e tinha tudo pra dar errado. Morava em Santa Rita da Floresta, distrito de Cantagalo, há quatro quilômetros do asfalto mais próximo e mesmo assim ousei desafiar a minha realidade e comecei a alimentar o sonho de ser repórter― conta o ex-aluno.

O primeiro passo para a realização, foi consumir produtos jornalísticos. Ele assistia TV e ouvia com muita dificuldade a programação da Rádio Globo, devido ao sinal ser fraco nas áreas rurais. Fernando assinava também, a Revista Placar, que chegava com um mês de atraso no sitio onde morava. Durante o curso de jornalismo, atuou em diversos veículos da Região Serrana: Rádio Estação e a Mídia Impressa da Estácio, TV Serra Mar (atual InterTV), Jornal O Momento de Macuco, assessoria de comunicação do Instituto Brasileiro de Pesquisa Alternativa (IBPA), agência de publicidade Groove, Rádio Sucesso FM, TV Zoom e Friweb.

― O aluno não pode achar que a vida profissional começa depois da formatura e não deve fazer menos do que pode. Uma resenha, um texto ou uma matéria, são os produtos jornalísticos que vocês têm nas mãos. Saindo daqui, elementos como a audiência, vão interferir no trabalho de vocês. A universidade permite que sejam totalmente criativos. É hora de produzir. Na minha trajetória, o mais difícil foi ter paciência. É preciso trabalhar bem e não deixar as barreiras gerarem um desânimo invencível.

O dia-a-dia da profissão

― O projeto Extra 3G exige que o repórter faça cobertura multimídia (texto, fotos e vídeos) em tempo real e apresente um novo viés na edição impressa do dia seguinte. Este é o maior desafio. Informação só com texto é coisa do passado. As pessoas querem imagens e nós temos que fornecer aquilo que é pedido. No dia-a-dia da rua aprendemos a criar minimamente uma relação de intimidade com a fonte para obter a informação certa e de preferência que ninguém tenha―destaca Fernando.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Irandir Rocha, João Buracão, Ferndo torres e ana Maria Braga


Além da correria e da responsabilidade que enfrenta um repórter multimídia, o ex-aluno da Estácio, continua trabalhando como professor no Rio de Janeiro. Um desafio que acrescenta experiência e atualização.

― Lecionar me obriga a procurar novos livros e conceitos, constantemente. Aqui, preciso citar o jornalista Fábio Gusmão, editor de Geral do Extra, que me apoiou a continuar com as aulas na Estácio. O ritmo de vida de quem trabalha em redação é frenético. Eu busco energia para conseguir ser um professor que agregue valor à vida acadêmica do aluno.

CONFIRA A ENTREVISTA COM FERNANDO TORRES NA ÍNTEGRA

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