domingo, 29 de novembro de 2009

O X DA QUESTÃO: EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FUNCIONA?

Alunos dizem que não. Professor destaca suas vantagens


Por Ildes Fernando
Técnica Mista Av2

Encurtar as distâncias. É esse o objetivo da internet. Pensando nisso, as instituições de ensino vêm incorporando em seus cursos a modalidade de educação à distância. Desta forma, a sala de aula foi transferida para a casa de muitos estudantes, que administram o horário de estudo conforme a sua rotina.

Foto: opovo.com.br
Dados do Ministério da Educação (MEC) revelam que o número de alunos matriculados em cursos superiores a distância cresceu 106% entre 2007 e 2008. O aumento da participação da EAD no Ensino Superior brasileiro antes era de 4,2% e passou para 7,5%, em 2008. No ano passado, havia 761.099 matrículas nessa modalidade distribuídas entre 109 instituições de ensino público e privado.

O estudante de Jornalismo Genilson Marques Félix, quando ingressou na Universidade, se matriculou no curso presencial. Porém, no decorrer dos períodos, se deparou com a obrigatoriedade de fazer disciplinas online. Nas duas disciplinas que fez, seu desempenho foi muito baixo em relação às disciplinas presencias. Em uma repetiu e na outra passou "na risca".
— Não absorvi o conteúdo como deveria, pois nas disciplinas online eu não tive a oportunidade de assistir as palestras com os professores nos dias em que foram apresentadas. As minhas dúvidas demoravam para serem respondidas e a faculdade não toma nenhuma atitude para melhorar isso. Para mim, ensino a distância não funciona.

Anna Christina Soares Serafim também não vê rendimento no ensino online. A estudante do nono período de Direito diz que o problema está na postura do aluno.

— O ensino a distância não funciona porque o aluno não dá a devida atenção a uma matéria online como dá a uma matéria presencial. Além disso, as apostilas com o material de aula não é completo. Também não há como o aluno ter um contato direto com o professor e isso prejudica, e muito, o ensino, pois a experiência dele ajuda na hora da explicação, fixando, assim, a matéria.

“É uma enganação”
Anna Christina ressalta que a instituição é quem sai ganhando nessa história.

— É claro que a instituição é beneficiada. O aluno só sai perdendo. Não aprende o que deveria aprender. É uma enganação. A instituição cobra por uma matéria online o mesmo valor de uma presencial e paga apenas um professor, o que significa dizer que obtém um lucro muito maior — diz indignada.

A educação a distância requer disciplina e autonomia. Isso explica a prevalência de alunos mais velhos. Segundo um levantamento feito em 140 instituições, só 22% dos estudantes têm menos de 24 anos.

Do quadro de giz para a tela do PC
Apesar das críticas e da rejeição de vários estudantes, profissionais da educação defendem o método como uma evolução no ensino. Professor desde 2005 e há dois atuando no meio online, o mestre em comunicação e cultura, Wilson da Silva Rezende Filho, levanta a bandeira desse tipo de estudo.

— Ensino virtual funciona sim. Ele é mais que uma realidade. A questão é que a prática é muito recente e o novo sempre assusta. Não sou daqueles que ficam bradando em nome do novo, mas seu caráter embrionário gera resistência. Mas como nos advertiu Marshall McLuhan uma "tecnologia significa constante revolução social", e essa revolução está em curso em nome de um outro ensino, mais dinâmico e interativo. Acredito que ele funciona e muito.

As mudanças não atingiram somente os estudantes. Wilson também teve que se adaptar.
— Meus hábitos, minhas tarefas, tudo mudou. Antes, eu era professor na sala de aula e nas tarefas para sala de aula: preparo de aulas, correção de trabalhos e provas. Agora minha mente é voltada para o ensino full time (período integral). E isso reflete no presencial. Não que minhas aulas ficaram melhores ou piores, mas minha mente é a de um professor 24h. E eu acho que isso é ser professor. Foi um novo método de ensino que me fez ver isso. Uma tecnologia "não é boa, nem má, nem neutra", disse já Pierre Levy.

Por causa disso, dá até para sentir diferenças entre o novo e o tradicional.

— No presencial é visível a passividade de muitos alunos e a aceitação do mestre com e como verdade absoluta são cada vez maiores. No a distância a participação é fundamental. O aluno precisa estar ali e no seu ritmo co-criar com o professor — avalia Wilson, que acredita que as duas maneiras de ensinar devem caminhar juntas.
Para os alunos vale um conselho e o que esperar para o futuro.

— Explorem! Façam desse ambiente mais que um ambiente de exposição da vida - como se tornou o ORKUT - mas de troca de conhecimento. Pensem na ótima questão também levantada por McLuhan de que os meios eletrônicos são "salas de aulas sem paredes". É importante também repensar o impacto no ensino e a forma engessada com que ele vinha sendo tratado até por nós professores. Para os próximos anos, pode-se esperar mais conexões, mais movimentos e acima de tudo mais criações em conjunto, mas não só esperar; agir. Assim penso minhas aulas — enumera Wilson Oliveira, autor do livro "Desconstruindo McLuhan: o homem como (possível) extensão dos meios”.

A origem da modalidade

A educação a distância surgiu no século XIX. A University of London foi a pioneira e o seu mais ilustre aluno foi o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandella, que fez o curso de Direito por correspondência na prisão.

Na Segunda Guerra Mundial, soldados americanos já estudavam a distância. Durante o pós-guerra, houve a necessidade de formar profissionais rapidamente para que dessem conta de reconstruir os países da Europa.

No Brasil, a EAD teve início no fim do século XIX. Aprendia-se datilografia por correspondência. Depois, aulas começaram a ser transmitidas pelo rádio. E o aparelho que revolucionou a comunicação na época também virou tema de curso: as pessoas montavam seus próprios rádios e também faziam a manutenção desses aparelhos. Era um novo negócio, uma nova demanda, uma evolução no Brasil na época. O Instituto Monitor, aberto há 70 anos, em São Paulo, é a escola mais antiga em funcionamento no país.

No ensino superior e na pós-graduação, a educação a distância no Brasil caminha a passos largos. A oferta de cursos superiores dentro do país cresceu 571% entre 2003 e 2006. O dia 27 de novembro é considerado o Dia Nacional da Educação a Distância A data foi instituída, em 2003, pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).

Um comentário:

Wilhan José Gomes disse...

Aqueles alunos que dizem que EaD não funciona, na minha opinião, estão assinando o próprio atestado de incompetência e mediocridade. Sou Especialista em EaD, e ja fiz mais de cinco cursos a distância, entre pos-graduação, especialização e cursos de extenção. Sempre aprendi muito com isso. Acho que o problema não está na EaD, e sim no aluno que estuda.