domingo, 29 de novembro de 2009

Teresópolis contra as cadeiras de rodas

- Obstáculos se tornam quase impossíveis aos cadeirantes da cidade
Por Fernanda Pamplona
(taça de champanhe com link interno)

Com 32 anos, Márcio Conceição é cadeirante desde os 18. Um acidente de carro, que aconteceu dois anos após se mudar para Flórida, o deixou dependente da cadeira de rodas. Mesmo assim, essa dependência nunca foi problema para ele - até agora. Márcio voltou para oBrasil há 2 anos, e resolveu viver na sua cidade natal: Teresópolis.

Até chegar no país foi complicado. Márcio conta que, mesmo no aeroporto, a falta de estrutura para quem precisa da cadeira de rodas para se locomover foi a prova de que seus dias por aqui seriam difíceis. "A saída do avião já foi problemática. Fiquei duas horas esperando uma rampa do lixo para poder sair do avião, por falta de estrutura do aeroporto", disse.

Os problemas continuaram - e continuam - desde então. Até chegar em Teresópolis, o transporte tanto de carro como ônibus são difíceis. Segundo ele, são raríssimos os veículos e meios de transportes que conseguem se adaptar ao cadeirante. "Muitas vezes, não tem como entrar ou permanecer no veículo. No caso do ônibus, temos que pedir para alguém levar a gente no colo", reclamou. A Viação Teresópolis, que faz o transporte intermunicipal, não tem adaptação em seus veículos, e os motoristas não sabem informar se haverão adaptações ou mudanças. Quando em contato com a empresa, a mesma ficou de retornar a ligação - mas não o fez.


Morando em Teresópolis

Ao chegar em Teresópolis, Márcio encontrou novos desafios. Ele reclama - e com razão - da forma que as autoridades lidam com os cadeirantes: dificilmente encontra-se rampas em calçadas e lojas, elevadores especiais para acesso ou qualquer tipo de punição para esse tipo de coisa. "Nos supermercados, é até curioso: tem caixa exclusivo para deficientes, mas o espaço entre eles não nos permite passar. Tenho que dar a volta para poder pegar as compras, isso é absurdo!", comentou.

Márcio, e outros cadeirantes que serão retratados nesta matéria, lembram de um fato importantíssimo: em 2016, as Olimpíadas e Para-olimpíadas acontecerão no Rio de Janeiro. "E aí você me responde: como farão uma para-olimpíada no país se não existe estrutura para deficientes? As cidades brasileiras não são feitas para cadeirantes", questiona.

Para registrar as reclamações, a equipe de reportagem aceitou fazer o caminho entre a casa de Márcio, na Avenida Feliciano Sodré, até um banco qualquer no Centro. O percurso, que feito à pé dura no máximo 15 minutos, chega a 50 quando feito com uma cadeira de rodas. Márcio explica que, se muitas das vezes não estivesse acompanhado no trajeto, provavelmente teria caído.

Durante o percurso, encontramos a dona de casa Renilde Medeiros na Praça Olímpica, acompanhando seu marido Álvaro. Ela também comentou a falta de estrutura da cidade e, principalmente, a falta de respeito das pessoas que não precisam das cadeiras de rodas. "Me mudei para um apartamento no Centro para que pudesse ao máximo se adaptar às cadeiras de rodas do Álvaro. Mas na entrada do prédio, já tivemos problemas: na entrada, são oito degraus que temos que enfrentar. Não querem colocar uma rampa por causa da estética", afirma.

No caminho, foi possível perceber que todo o comércio não é apto a receber clientes deficientes. Márcio afirma que, neste caso, o processo é ainda mais complicado: já aconteceu de a própria Prefeitura Municipal solicitar remoção da rampa de acesso. "Quando os empresários tentam se adaptar, são punidos. A gente fica dependendo da solidariedade dos funcionários de nos ajudar a entrar", comentou.

No Shopping Várzea, a situação é constrangedora. A babá Maria Aparecida Ferreira, que cuida de uma menina de 9 anos cadeirante, concordou com as reclamações estruturais da cidade e incluiu o elevador do estabelecimento. "Uma vez, o elevador quase fechou em cima da menina, por não ter sensor. Além disso, a porta é muito estreita", afirmou. Ela lembra que, quem precisa do transporte público dentro da cidade também sofre: a única vez em que precisou levar a menina de ônibus para casa, não conseguiu. "Tentamos ir de ônibus, mas não tinha como levá-la no colo. Tive que pagar um táxi", completou.


Adaptações são necessárias - e possíveis

Porém, Márcio explica que nem tudo está perdido. Em um prédio da cidade, já foi feita uma adaptação, colocando elevadores especiais e rampas de acesso, no edifício Alexandre Pires. "Esse é um dos únicos prédios que conheço que tem esse elevador. Ele tem que servir de exemplo para o resto da cidade", disse.

A necessidade de um acompanhante não deveria ser essencial para a locomoção dos cadeirantes, e esse é o principal manifesto de Márcio e muitos outros que precisam da cadeira de rodas. Luci Raposo, que teve que abrir mão de sua carreira para poder acompanhar sua filha Vitória, de 14 anos, explicou que as rampas ainda poderiam ser colocadas e adaptadas na cidade. "Meu sonho era colocar o prefeito, e todos os vereadores, em uma cadeira de rodas para andar pela cidade. Assim, eles iam sentir na pele o que passamos todos os dias", afirma.

E, em Teresópolis, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos afirmou, quando contactada, que um plano de urbanização para o Centro da cidade está sendo elaborado. "Todos os itens mencionados na matéria estão inclusos neste plano", afirmou em nota. Agora, parte da população cobrar essas mudanças.

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