quarta-feira, 25 de junho de 2008

CENTRO DE ARTE DE NOVA FRIBURGO



Em prol da cultura, porão das artes sobrevive ao tempo

POR LUÍSA TOLEDO
O Centro de Arte de Nova Friburgo, localizado no centro da cidade comemorou 47 ( quarenta e sete ) anos no dia 16 ( dezesseis ) de maio, data em que também é festejado o aniversário da cidade. Em 1961, o então prefeito do município, Amâncio Azevedo resolveu atender ao pedido de um grupo de artistas amadores, que queria transformar o antigo porão abandonado do prédio que na época era a sede da Prefeitura, em um Centro de Arte e Cultura. Entre os idealizadores da proposta destacou-se Heródoto Bento de Mello – primeira pessoa a dirigir o estabelecimento.
No final dos anos cinqüenta, existia um Clube de Fotografia na cidade formado por Heródoto e mais vinte amigos. Com a chegada do Cinema Novo, os rapazes começaram a se interessar pela sétima arte e resolveram que deveriam produzir um filme de qualquer jeito. " Começamos, realizando sessões de cinema de arte, porém não tínhamos um estabelecimento fixo, o que dificultava a realização de tais encontros", conta Heródoto.
O porão, onde hoje é o Centro de Arte estava, na época, servindo de depósito de entulhos, móveis velhos e de arquivo morto. "Resolvi visitar o doutor Amâncio e, pedir-lhe que providenciasse um local para a realização das sessões de cinema. Antes de encontrá-lo, algo me fez entrar no porão. Fiquei encantado com os arcos, com a grossura das paredes, as ligas de madeira e não acreditei que o lugar tinha virado um depósito de lixo". Junto com o amigo e também arquiteto, Mário Amorim Costa, Heródoto conseguiu reformar o local. Ele também contou com o apoio de muitas empresas e fábricas locais, assim como do Ministério da Educação do Rio de Janeiro, que doou o primeiro piano do centro de arte.
O friburguense Jorge Saad, auxiliar administrativo da secretaria de cultura de Friburgo, foi um dos primeiros associados do Centro de Arte. No final de 1962, fundou o primeiro grupo de teatro da cidade, mais conhecido como TECA ( teatro experimental do centro de arte ). "Os jovens da época tinham grande interesse por arte. Era o tempo da efervescência cultural. As opções de lazer eram mais determinadas e, a procura pelo teatro era grande. Predominavam os atores mais jovens", conta Saad, que ficou no estabelecimento até 1969, ano em que foi apresentado o último espetáculo de TECA. Bebete Castillo, foi a primeira mulher a se associar ao TECA e a única que, na época sabia administrar a parte de iluminação das peças na cidade. Em sua homenagem, a atual sala de teatro leva o seu nome.
O prédio onde atualmente funciona a Oficina-Escola de Arte e o Centro de Arte, já foi palco de grandes eventos, seja envolvendo questões sociais locais, ou vivenciando dinâmicas da conjuntura política regional e nacional. "Essa construção se constitui num marco importante da arquitetura em Nova Friburgo. Constituída em estilo da fase neoclássica, este solar se impunha à paisagem local e, chamava a atenção de toda a população", diz Liliane Herdy Yung, atual secretária de cultura de Nova Friburgo.
Tudo começou, quando o primeiro Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, mandou edificar a Casa Grande, inaugurada na década de quarenta do século XIX. A atual Praça Getúlio Vargas era, na época, o jardim da "Casa da Baronesa". Como sofria de depressão, a baronesa ficava a maior parte do tempo na Casa Grande, de onde podia olhar os transeuntes pela janela. Algo que não era possível fazer quando estava na casa principal, onde hoje é a sede do Country Clube.
Existia um trem para transportar os escravos e os alimentos, que ligava a casa principal à casa da baronesa; o trem parava em frente à entrada do porão, onde hoje é o centro de arte e que na época era a senzala, onde viviam alguns dos escravos.
O porão também já funcionou como Cadeia Pública, quando em 1921, o prédio foi vendido ao executivo que se instalaria aí, dividindo espaço com a Câmara e a biblioteca municipal. "No porão, foi instalada, na mesma época, a Cadeia Pública. Por isso a existência das grades de ferro em todas as janelas do Centro de Arte", relata a atual diretora do local, Daniela Santi.
Hoje, além de apresentar exposições de arte diversas, o estabelecimento conta com a Mostra de Filmes, que funciona às quartas e quintas e com apresentações teatrais e musicais. Este mês estão expostos trabalhos do fotógrafo Osmar de Castro- que expõe fotos antigas da cidade de Nova Friburgo e do artista plástico Zeppe.


Participe, enviando sua opinião sobre os eventos e a programação cultural oferecidos pelo Centro de Arte de Nova Friburgo. Você sente falta de alguma atividade? Acha que o porão das artes da cidade cumpre bem com seu papel ?

Site relacionado:

culturanf.vilabol.com.br

Um comentário:

Unknown disse...

Além do saudoso Jorge Saade, fizeram perte do TECA, Josè Carlos Gonçalves Madeira, Antônio Claúdio Peres dos Santos, Carlos Antônio Junqueira de Siqueira, Maria Alice Cúrio, Aloísio Yaggi Martins, João Carlos Cortes Teixeira, Irapuan Guimarães, Paulo Sérgio Carvalho, Leopoldo. A primeira peça encenada pelo TECA foi "Mortos Sem Sepultura" do francês Jean-Paul Sartre, com direção do Saade e tendo no elenco Maria Alice, Carlos Antônio, Odir Gremião, Irapuan, João Carlos, Paulo Sérgio, Aloisio, Noberto Louback Rocha e Leopoldo e cuja montagem só se viabilizou pelo empenho do Sr. Sebastião Martins em conseguir apoio e patrocínio do comércio local.
Havia também no Centro de Arte de Nova Friburgo, uma reunião semanal, sempre às terças-feiras, chamada de Arte na Intimidade, onde eram debatidos temas diversos sobre literatura, artes plásticas, cinema e teatro. O então juiz do trabalho, Augusto Cesar Ferreira era uma das figuras centrais desses encontros.
O Professor Jorge Saade foi uma figura ímpar na divulgação e manutenção da atividade cultural da cidade, sendo logo acompanhado por Jaburu - Julio Cesar Seabra Cavalcanti - que em 1966 cria o GAMA - Grupo de Arte Movimento e Ação - ainda hoje responsável pelo que de mais representativo existe nas artes em Nova Friburgo