sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Velha Guarda da Portela vira filme

Por Vitor Siqueira

Foi andando pela zona norte do Rio de Janeiro e olhando o jeito simples dos moradores da região da cidade que respira samba que Marisa Monte pode conhecer de perto histórias de grandes sambistas cariocas. Como se fosse uma pessoa comum, sem se preocupar com a fama e o sucesso já adquirido com os anos de carreira, a cantora pegou um gravador e percorreu as ruas do bairro Oswaldo Cruz.
Sempre muito simpática e descontraída, Marisa conversou com pessoas que fazem parte da história da Portela, a agremiação que mais detém títulos no maior carnaval do mundo.
O projeto começou com a gravação do CD “Tudo Azul”, em 1998, e naquele ano Marisa teve acesso e resgatou a obra musical dos compositores da Velha Guarda da Portela.
Durante quase dez anos, Marisa conseguiu reunir depoimentos de integrantes históricos da Velha Guarda da Portela como: Monarco, Argemiro, Jair do Cavaquinho, Aniceto, Antônio Rufino dos Reis, Casquinha e Casemiro da Cuíca. Nomes mais recentos como Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho também não foram esquecidos.
Um detalhe curioso do documentário é a presença de mulheres sambistas, fato que quase não ocorre quando o assunto é samba, já que são os homens que predominam o estilo musical. Nomes como Surica, Doca e Eunice são lembrados e valorizados e elas fazem confidências saborosas sobre o universo masculino do samba.
O documentário “O Mistério do Samba” tem a direção de Carolina Jabor e Luiz Buarque de Hollanda. A participação de Marisa na produção do filme foi essencial para que os diretores pudessem ter acesso a uma história desconhecida.
Como uma pesquisadora e cineasta dedicada, Marisa foi atrás de familiares de sambistas que já morreram e encontrou letras e gravações em fitas cassetes de músicas inéditas. Eram cerca de 100 canções inéditas que corriam o risco de desaparecer
Tanto Carolina Jabor quanto Luiz Buarque de Hollanda não sabiam quase nada sobre a história da agremiação carnavalesca. Depois que encontraram com Marisa Monte e viram que a idéia da cantora poderia se transformar em um filme, os dois cineastas passaram a freqüentar a quadra da escola e foram a ensaios e escolhas de samba-enredo.
São 88 minutos de filme que viraram um longa-metragem e passeiam por toda a história da escola fazendo do samba o ponta-pé inicial para a construção de uma música sem melodia.
O documentário abriu o Festival de Paulínia este ano e foi programado para ser exibido em uma sessão ao ar livre no festival de Cannes, na França, mas não ocorreu por causa do mau tempo.
O filme tem sua estréia nesta sexta-feira em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Brasília e Santos.
Durante todo o tempo o clima de saudade e as memórias que fizeram parte da vida de cada integrante da Velha Guarda da agremiação são vistas de diferentes formas com tons que passam da melancolia a alegria extrema.
A turma retratada no documentário viu o filme antes dele entrar em cartaz. Durante a apresentação restrita o choro fez parte de cada um que participou do documentário. A emoção falou mais alto e os 88 minutos de filme passaram como se fossem segundos embalados por música e poesia.

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